terça-feira, 11 de outubro de 2011

A POSTURA CERTA DIANTE DE DEUS 
Qual a noção que a maioria das pessoas possui de Deus? Como elas se aproximam do Criador? As respostas a estas questões podem ser variadas, mas em geral os seres humanos não compreendem de fato quem é Deus e como Ele se revela e quão digno é Sua pessoa. Nessa era pós-moderna – o que para alguns já é a Era pós-cristã – a relação das pessoas com Deus em geral é baseada num sentimentalismo ou numa relação apenas interesseira e sem o conhecimento adequado da Divindade.

O que acontece é que perdemos a idéia do Sagrado e quem de fato Deus representa. Como diria Rudolf Otto, o numinoso não pode ser entendido, porque não pode ser explicado já que seu caráter é de algo inefável – se não se pode dizer, não se pode entender. Porém Otto declara que somente aqueles que viveram uma experiência religiosa é que podem entender, mas não expressar, o que sentiram e viveram em relação ao sagrado, ao numinoso. A gratidão, a confiança, o amor, a segurança, a submissão, a resignação e a dependência, são na religião, ou melhor, na experiência religiosa, sempre mais intensos.

Ou seja, a nossa experiência com o Deus Incompreensível e Santo deveria gerar em nós um sentimento de pequenez diante de Sua glória e majestade, mas de gratidão por Ele ter se aproximado de nós por meio de Cristo. Essa experiência deveria trazer a nós a visão do mysterium tremendum ou o mistério que faz tremer; ela expressa-se primeiramente na forma brutal do sinistro, do terrível. É o medo em seu estágio inferior, é o terror, o calafrio que manifesta nosso terror frente ao sinistro da vida. Diante de um Deus tão glorioso o ser humano emudece a alma.

Foi isso que aconteceu com Ezequiel no final de seu ministério. Esse homem teve uma experiência só comparada com Moisés no Sinai e João na ilha de Patmos. Ele foi levado ao exílio babilônico juntamente com a família real no ano de 597 a.C. Como sacerdote ele conhecia bem todos os detalhes da religião e sua formalidade. Mas no ano 592 a.C. junto ao rio Quebar (Ezequiel 1) ele presenciou pela primeira vez a glória de Deus em todo o Seu esplendor. Isso por si só já era uma quebra de paradigmas, pois na visão judaica Deus só se manifestava nos limites territoriais de Israel e especificamente no templo de Jerusalém. Durante toda a sua vida Ezequiel teve a oportunidade de ver essa manifestação da glória divina e em todas elas sua postura foi sempre de tremor e reverência.

No final de sua vida, por volta do ano 572 a.C. o Espírito do Senhor o leva a terra de Israel e lhe mostra um Templo totalmente diferente do templo de Jerusalém. As medidas do templo são perfeitas, mostrando que não era um prédio físico, mas uma expressão espiritual. Na manifestação de Deus ao profeta a glória do Senhor retorna ao Templo e ele declara: “A visão que tive era como a que eu tivera quando ele veio destruir a cidade e como as que eu tivera junto ao rio Quebar; e me prostrei com o rosto em terra... Então o Espírito pôs-me em pé e levou-me para dentro do pátio interno, e a glória do SENHOR encheu o templo” (Ezequiel 43:3,5). Aqui encontramos a postura certa diante de Deus.

Primeiramente o profeta se prostra em adoração. Essa adoração não é inconseqüente, mas cheia de significado de tremor e temor. É o que Rudolf Otto chama de majestas (Majestade). Não se trata apenas de medo, mas é a noção de reverência e reconhecimento de uma entidade infinitamente superior. No Antigo Testamento, o zelo e a cólera de Yahweh poderiam e geralmente causavam muita destruição. Sua figura inspirava terror: Ai de mim! (Isaías 6:5). Jó também experimenta deste sentimento de ser nada e o outro tudo. É ele quem controla todas as coisas, é inacessível, é cheio de poder e força, é o Senhor que determina tudo.

Em segundo lugar, quem nos coloca de pé é o Espírito do Senhor. Sem essa ação divina não há como estar de pé diante dEle: “Então o Espírito pôs-me em pé”. O novo nascimento vem do Espírito (João 3:6); Ele nos dá vida (João 6:63) nos ressuscitando da morte espiritual (Efésios 2:1) e abrindo nossos olhos à verdade de Cristo (João 15:26; 16:13,15). Sem essa ação do Espírito Santo não há conversão (João 16:8-13).

E finalmente somos conduzidos pelo Espírito para a Presença gloriosa do Senhor: “e levou-me para dentro do pátio interno, e a glória do SENHOR encheu o templo”. Quem poderia se aproximar de Deus? Absolutamente ninguém. Entretanto, Jesus tornou-se nosso sacrifício expiatório, de modo que agora o Espírito nos guia à Presença gloriosa do Deus Eterno. Vivemos sob a lei do Espírito (Romanos 8:2), temos a mentalidade do Espírito (Romanos 8:6) e fomos adotados como filhos de Deus tendo a confirmação do Espírito em nossa vida (Romanos 8:15,16). Somos agora a morada do Espírito Santo (1Coríntios 3:16; 6:19). Ele tornou-se nossa garantia e nos selou para o Dia de Cristo (2Coríntios 1:22; Efésios 1:13,14). Como diz o autor aos Hebreus: “Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Lugar Santíssimo pelo sangue de Jesus” (Hebreus 10:19). O Espírito Santo nos conduz a Presença de Deus por causa do sangue derramado na cruz do Calvário.

A postura certa diante de Deus começa com a sensação de dependência com o sentimento de criatura. Esse sentimento na verdade é um efeito colateral subjetivo do elemento numinoso, ou seja, diante da Grandeza, da Majestade e do Poder de Deus, reconhecemos que somos apenas criaturas que só podem estar numa posição: de joelhos e prostrados.

Creio firmemente que é isto que falta a nossa geração, a compreensão de que existe Alguém maior que nós mesmos, que fez, domina e executa as coisas conforme quer e deseja, que está acima do ser humano. Este conceito da divindade – que falta inclusive nas igrejas – parece ter desaparecido, pois as pessoas constroem seus deuses de acordo com suas conveniências e necessidades. Falta-nos este sentimento de criatura, esta sensação de que o Deus que adoramos é bem superior a nós.

(publicação autorizada - autor: Pr. Gilson Jr.)