segunda-feira, 12 de março de 2012

A ALEGRIA DE SER APENAS DISCÍPULO

Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão que lutou contra os nazistas e tornou-se um dos maiores pensadores cristãos do século XX, no seu livro O custo do discipulado escreveu assim: “Quando Cristo chama a um homem, lhe pede que venha e morra”. Esta frase hoje diante do evangelicalismo tupiniquim seria rechaçada, principalmente entre aqueles pastores e líderes que insistem em pregar um evangelho barato e desqualificado que se baseia na devoção nominal, na comodidade pessoal e na falsa ideia de que Jesus se preocupa mais com nosso conforto que nosso caráter. Essa versão malformada do “evangelho” (com e minúsculo e entre aspas mesmo) mostra apenas um Jesus que ama, mas não um Jesus que chama a tomar a cruz e a segui-lo apenas porque foi alcançado pela graça.

Infelizmente vivemos um tempo em que o compromisso dos cristãos com Cristo se resume a cultos dominicais, um “cristianismo” que evita o perigo, que preza o equilíbrio e que busca apenas um Jesus que console e dê prosperidade para que se viva uma fé num sonho de amor. Mas, será que este é de fato o Evangelho de Jesus ou estamos tentando moldar Jesus a nossa imagem? O perigo que corremos é estar nos templos, levantar as mãos, cantar hinos e invocar um Jesus totalmente diferente daquele que a Bíblia apresenta.

Jesus foi claro: “... Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser preservar a sua vida, este a perderá; mas quem perder a vida por amor de mim, este a preservará” (Lucas 9:23,24). Qualquer evangelho diferente disso não é o Evangelho de Jesus. O Senhor não negociava Seus princípios eternos e sempre foi muito claro aos Seus ouvintes que segui-lO era algo perigoso. Qualquer um que leia a Bíblia de forma clara vai perceber que Jesus era direto.

Ao jovem rico “Olhando para ele, Jesus o amou e disse-lhe: Uma coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres; e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me” (Marcos 10:21). Aquele jovem foi embora triste de ter que abandonar suas riquezas. Nisto, Pedro quis se mostrar melhor que aquele jovem ao dizer que eles tinham abandonado tudo para seguir a Cristo. Jesus lhe respondeu: “... Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos, por causa de mim e do evangelho, que não receba cem vezes mais, agora no presente, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições, e no mundo vindouro, a vida eterna” (Marcos 10:29,30). Observemos bem o texto. Jesus fala em deixar não apenas bens, mas também relacionamentos pessoais e íntimos; isso implicará em perseguições, mas será recompensado com a vida eterna. Será mesmo que Jesus estava usando uma linguagem figurada ou falava de forma radical?

O Senhor ouviu um homem lhe dizer que O seguiria em qualquer lugar. O Senhor lhe disse: “As raposas têm tocas, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde descansar a cabeça” (Lucas 9:58). Isto é, não existe conforto para seguir a Cristo, não existe garantia de que suas necessidades básicas sejam supridas. Essa é uma palavra dura, principalmente em nossa geração que vive buscando conforto, segurança e bens materiais. A morte, a dificuldade e as tribulações são vistos pelos crentes pós-modernos como maldições, como aflições “injustas” e querem entrar na falsa ideia de revoltar-se com estas coisas, quando deveriam se alegrar na morte, “Pois para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Filipenses 1:21); deveriam ver as dificuldades “... recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos...” (Hebreus 12:7); as tribulações deveriam ser vistas como motivos de glória, “... sabendo que a tribulação produz perseverança, e a perseverança, a aprovação, e a aprovação, a esperança; e a esperança não causa decepção, visto que o amor de Deus foi derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Romanos 5:3b-5).

Noutra ocasião, falando da importância e o custo de segui-lO, o Senhor adverte: “Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. Pois qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro para calcular as despesas, para ver se tem como acabá-la?” (Lucas 14:27,28). Fica evidente que Jesus está falando de cruz, de compromisso sério, de custo do discipulado. Seguir a Jesus implica claramente numa atitude de renúncia própria e morte de si mesmo.

Mas, qual a alegria de seguir a Cristo? A alegria reside no fato inquestionável que estávamos destinados ao inferno e que em nós não tínhamos nenhum merecimento, nada que pudéssemos dar pela nossa vida, e Ele deixou Sua glória e nos alcançou com Sua graça. Mas Cristo não nos alcançou para termos uma casa bonita, um bom emprego, dinheiro, conforto e opulência material; Cristo nos alcançou para algo maior, para servi-lO e viver segundo Seu padrão. Jesus disse: “Meu Pai é glorificado nisto: em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (João 15:8). O que de fato importa é a glória de Deus; nós O glorificamos quando fazemos o que Ele manda. A alegria do discípulo reside na alegria de seu mestre. A alegria do cristão reside em obedecer e viver para a glória de Seu Senhor, que é Cristo.

Estamos de fato alegres por ter sido alcançados pela graça, vivendo para a glória de Deus, ou queremos adequar Cristo às nossas necessidades materiais e físicas? Quem vem a Cristo recebe uma cruz que deve ser levada diariamente; quem toma a cruz sabe que seus planos pessoais não existem mais, é um caminho sem volta. Essa cruz exige fidelidade e compromisso radicais, mas “... Sê fiel até a morte, e eu te darei a coroa da vida” (Apocalipse 2:10).
(Texto Pr. Gilson Jr.)